quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Violência contra idosos preocupa


Apesar de toda a representatividade da classe idosa, não só em Campo Mourão, mas no Brasil, muitos deles ainda enfrentam problemas no que diz respeito à maus tratos.  No município, desde janeiro, o Centro de Referência Especializada em Assistência Social  registrou 14 denúncias de maus tratos. O número é considerado alto.

Hoje o perfil mudou, os idosos estão cada vez mais inseridos na sociedade. Somente com aposentadorias, em Campo Mourão, mais de R$24 milhões entram mensalmente. O que já era uma tendência há muitos anos deve ser confirmado este ano com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com as estimativas de 2009, por exempo, a população acima dos 60 anos já representava 7,8% da população total da cidade, um pouco abaixo dos índices nacionais que ficam em 12%. Apesar de toda a represen-tatividade, eles ainda enfrentam muitos problemas principalmente no que diz respeito a área criminal, maus tratos e abandono, desde janeiro, o Centro de Referência Especializada em Assistência Social (Creas) registrou 14 denúncias de maus tratos, número considerado alto.
            Segundo o presidente do Conselho Municipal do Idoso (CMI), o juiz aposentado Edgar Rubens Rieke a situação de Campo Mourão é parecida com a de outras regiões. “Percebemos um esforço geral das instituições que lidam com a terceira idade e podemos dizer que tem avançado muito. Temos uma legislação bastante avançada. O Estatuto do Idoso é um exemplo. É lógico que nunca vai ser perfeita, sempre comporta exceções.” Segundo o presidente, só o fato de ser necessário existir uma legislação específica já é um indicio de que alguém não respeita. “Toda lei comporta exceções, só existem as leis porque os problemas também estão por aí. Principalmente o abandono e os maus-tratos”, ressalta.
            Na classificação de maus-tratos entram tanto a violência psicológica quanto as físicas. “Quando os idosos são mal-tratados geralmente a agressão é feita por familiares. Netos, noras e quase sempre o filho. Muito raro registrar casos de violência sendo cometida pelas filhas”, aponta a coordenadora do Centro de Referência em Assistência Social (Creas), Marli Iore. Além da agressão propriamente dita, outro fato muito comum é o abandono, a falta de alimentação. “As vezes o idoso está deitado, não consegue se locomover e fica dias sem receber comida.”
            Desde novembro está sendo feito um trabalho de concentrar as denúncias contra os idosos no centro. “O trabalho tem dado muitos resultados. Hoje mesmo [ontem] recebemos uma ligação pelo disk denúncia e um senhor veio pessoalmente falar de uma agressão. Antes, a pessoa não sabia onde falar, agora estamos explicando que aqui é a porta de entrada. Nós vamos atrás para verificar a situação, avisamos a família e acompanhamos. Caso isso não resolva, acionamos o Ministério Público (MP) e pedimos o afastamento desse idoso”, diz.

Denúncias
            No primeiro semestre deste ano já foram registrados 14 denúncias. Número que a coordenadora considera dentro da média. “Infelizmente esses números se repetem em todo lugar. As cidades que não os tem é porque os casos não vem a público. O idosos volta a ser criança, fica sem defesas. Geralmente está acamado e não sai de casa, a violência fica restrita às quatro paredes da casa”, lamenta.
            Além das denúncias pelo telefone, ela citou que os vizinhos são poderosos aliados. “Eles estão todos os dias ao lado, sabem como está a situação. Mas sempre mantemos quem nos ajuda no mais absoluto sigilo, até porque a maioria dos agressores são usuários de drogas ou de bebidas alcoólicas e eles tem medo de que sofram represálias”, relata Marli. A terceira forma para que os maus-tratos tornem-se conhecidos acontece durante as visitas dos médicos e agentes de saúde da família. “Eles verificam as condições do idoso e percebem muitas vezes os hematomas como tatuagem na pele. Além disso, muitos se abrem com os agentes durante as consultas e isso é repassado aqui para o Creas”, completa.
            Antes de forçar a saída do idoso do local, a coordenadora lembra que é necessário um trabalho com a família. “Existe o problema do vínculo familiar, eles já estão em uma situação de agressão e vamos forçar mais uma? Não pode ser assim, tudo o que envolve pessoas tem de ter um tratamento delicado. O maior receio dos idosos é como será a volta ao lar. Mesmo que na maioria das vezes eles sejam transferidos para outros familiares e não com os que o agrediram”, fala.
Renda do Idoso é um dos motivos
            De acordo com o presidente do CMI outro problema ainda é o abuso da renda do aposentado. “Os idosos passaram a ter definitivamente presença econômica na casa e os aproveitadores usam isso”, explica. Marli acrescenta que a renda é um dos motivos para as agressões. “Não temos hoje nenhum caso de uma família com melhores condições financeiras que cometa violência contra os idosos. Sempre são aquelas que estão em processo de desorganização. O que o aposentado ganha sustenta a família ou então é uma parcela bem significativa, até porque é fixa, vem todos os meses”, diz.
            Quando o idoso é retirado da casa e levado para o Asilo com a notificação do MP, a renda dele também é transferida para lá. “Eles não querem isso, por isso ficam com a pessoa em casa e acabam mau-tratando”, finaliza Marli.

Existe outro lado
            Se os problemas continuam a existir, Rieke ressaltou que hoje o idoso já é visto de forma diferente. “Está melhorando muito, eles melhoraram bastante. Hoje o idoso procura as opções de lazer, sabem que existe atividade, gostam dos bailes. É um leque de atividades que estão tendo hoje, mesmo na área de saúde”, pondera.
            A aposentada Maria Dias Pianho, 82 anos, concorda. Ela passou 35 anos trabalhando como costureira e hoje passa os dias entre os artesanatos que adora e os trabalhos da casa. “Percebo que hoje ser idoso é bem mais fácil do que na época da minha mãe, por exemplo. Ainda faltam algumas coisas, o reconhecimento, a atenção nos atendimentos que nos são prestados, as pessoas ainda precisam tratar o idoso com mais respeito. As calçadas são um exemplo, como muitos tem dificuldade de visão, é complicado com os obstáculos de raízes de árvores e buracos”.
            Para atender a demanda de Maria, já está sendo implantado na cidade um projeto de Acessibilidade, o “Campo Mourão para Todos”. A ideia é transformar a cidade em um modelo para portadores de qualquer tipo de deficiência, idosos ou pessoas como necessidades   especiais temporárias. Um dos passos é a gradativa transformação das calçadas da cidade.

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